O aborto do STF

22.12.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

O aborto do STF

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 18.10.2025 13:12 comentários
Análise

O aborto do STF

Crítico do patrimonialismo, Barroso deixou o tribunal acrescentando um capítulo ao histórico de confusão entre o público e o privado no Brasil

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 18.10.2025 13:12 comentários 2
O aborto do STF
Foto: Antonio Augusto/STF

“Passados 60 anos de primeira edição de Os donos do poder, o país ainda se debate com o patrimonialismo, a dificuldade de separação entre o público e o privado, com a apropriação privada do Estado, em episódios que se multiplicam em enfadonha repetição: Anões do Orçamento, Operação Sanguessuga, Mensalão, Petrolão, Orçamento secreto… Um aprendizado longo, lento, cansativo”, escreveu Luís Roberto Barroso (foto) em artigo publicado na edição de dezembro de 2022 da Revista Brasileira de Políticas Públicas.

A lista de “apropriação privada do Estado” citada pelo agora ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou um novo capítulo na sexta-feira, 17, último dia de Barroso como ministro do tribunal.

Assim como tinha feito a ministra aposentada Rosa Weber, o mais novo ex-ministro tomou uma medida “extraordinária” para depositar seu voto em favor da descriminalização do aborto.

O mesmo Barroso tinha dito, cerca de um mês atrás, ao ser questionado sobre o assunto, que “infelizmente” o Brasil não está pronto para um julgamento sobre a descriminalização do aborto.

Pelo jeito, o ministro aposentado acha que o Brasil estava pronto para o segundo voto de um juiz do STF pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação.

Para ele, “a interrupção da gestação deve ser tratada como uma questão de saúde pública, não de direito penal”.

Patrimonialismo

Em meio às celebrações dos ativistas pela causa do aborto, é preciso pontuar, contudo, que o procedimento adotado por Barroso e Weber acrescenta mais uma camada de vulgarização ao STF.

O tribunal cujos ministros se acostumaram a mudar os rumos do país sozinhos, por meio de decisões monocráticas — é sempre bom lembrar que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que sustenta o projeto político-eleitoral petista com sucessivos recordes de arrecadação, está pendurado em decisão individual do ministro Alexandre de Moraes —, vai consolidando uma nova forma de atuação personalista.

Esse é um tipo de patrimonialismo mais sofisticado do que a simples apropriação de recursos e estruturas públicas. Barroso e Weber se aproveitaram das posições que ocupavam para assegurar que suas vontades se tornassem oficiais.

Pior ainda

Isso poderia ter ocorrido caso o julgamento sobre a descriminalização do aborto fosse pautado para votação no plenário do STF, como de praxe — e já seria questionável, porque a prerrogativa para tratar do assunto é do Congresso Nacional —, mas o subterfúgio de abrir votações extraordinárias que logo em seguida são suspensas em jogo combinado amplifica a esculhambação no tribunal.

Aos ativistas que celebram o voluntarismo de Barroso e Weber, fica uma provocação simples: e se os votos dos dois fossem ao contrário? E se o último ato de um ministro fosse (chegará a ser um dia?) contra aquilo que se considera direito de uma minoria ou de um grupo de interesse específico?

O voto de Barroso é, em certo sentido (mas não em todos, porque não foi ele que inaugurou essa moda), pior do que o de Weber, pois deixa a impressão de que foi depositado deliberadamente para evitar o voto de um futuro ministro que decidiria em sentido contrário.

Perturbadora atualidade

O STF se desgastou muito no confronto público com Jair Bolsonaro, cujas provocações abertas apresentaram um desafio inédito ao tribunal, que escorregou diversas vezes na reação.

A situação do Supremo já é, hoje, ruim o bastante para que seus ministros ponham os próprios desejos pessoais à frente da instituição.

Que eles o façam enquanto alegam defender a institucionalidade da República e, de quebra, enquanto criticam abertamente o patrimonialismo é particularmente perturbador.

Aliás, o título do artigo assinado por Barroso e citado no início desta análise é “Os donos do poder: a perturbadora atualidade de Raymundo Faoro”.

Lei mais: STF tem maioria para derrubar decisão de Barroso sobre aborto

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

“A questão é por que Lula escolhe ignorar a situação na Venezuela”

Visualizar notícia
2

PGR considera violação de tornozeleira de Bolsonaro irrelevante após prisão

Visualizar notícia
3

Ramagem prepara curso online após bloqueio de contas

Visualizar notícia
4

Médicos confirmam cirurgia de Bolsonaro

Visualizar notícia
5

Vice-procurador-geral explica retirada de fotos do caso Epstein

Visualizar notícia
6

Eduardo Bolsonaro fala em “correr atrás de passaporte de apátrida”

Visualizar notícia
7

Mulher de Moraes registrou escritório no dia de ampliação da Magnitsky

Visualizar notícia
8

EUA interceptam terceiro petroleiro perto da costa da Venezuela

Visualizar notícia
9

Dino vê manobra e suspende artigo que reativava emendas vencidas

Visualizar notícia
10

María Corina agradece países do Mercosul que criticaram Maduro

Visualizar notícia
1

TRF-1 amplia reparação a Dilma por perseguição na ditadura

Visualizar notícia
2

Eduardo Bolsonaro fala em “correr atrás de passaporte de apátrida”

Visualizar notícia
3

“Estavam lá como torcedores”, diz advogado sobre viagem com Toffoli

Visualizar notícia
4

Jogo no STF vai além do impeachment

Visualizar notícia
5

França não consegue barrar acordo Mercosul–UE, diz Lula

Visualizar notícia
6

Brasil fica de fora de comunicado do Mercosul sobre Venezuela

Visualizar notícia
7

EUA apreendem mais um petroleiro perto da costa da Venezuela

Visualizar notícia
8

Mulher de Moraes registrou escritório no dia de ampliação da Magnitsky

Visualizar notícia
9

16 arquivos do caso Jeffrey Epstein somem de site oficial

Visualizar notícia
10

Venezuela anuncia apoio do Irã contra “terrorismo” dos EUA

Visualizar notícia
1

Moraes procurou presidente do BC para interceder por Banco Master?

Visualizar notícia
2

10 dicas para incluir o pet nas celebrações de Natal em família 

Visualizar notícia
3

Retrospectiva: o depoimento de Virginia Fonseca e o circo na CPI das Bets

Visualizar notícia
4

CGU pede compartilhamento de provas contra SorocaBannon, Ramagem e Silvinei Vasques

Visualizar notícia
5

Crusoé: Um Mercosul mais inóspito para Lula

Visualizar notícia
6

Júlia Zanatta cobra Correios por patrocínios culturais em tempos de crise

Visualizar notícia
7

Retrospectiva: quando Gusttavo Lima anunciou pré-candidatura à Presidência

Visualizar notícia
8

Crusoé: Aniversário dos EUA terá UFC na Casa Branca

Visualizar notícia
9

Crusoé: Raquel recupera parte do terreno perdido para Campos

Visualizar notícia
10

A melhor temporada para presentear com tecnologia, conforto e inteligência, mesmo na reta final de Dezembro 

Visualizar notícia

Tags relacionadas

aborto Luís Roberto Barroso Rosa Weber STF
< Notícia Anterior

Michelle Bolsonaro fala em “injustiça” e lamenta restrições no aniversário da filha

18.10.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Tudo que você chama de civilização nasceu neste lugar

18.10.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (2)

JEAN PAULO NIERO MAZON

18.10.2025 13:55

Duas deputadas opinando sem lugar de fala... uma gorda que ninguém c*me e um homem de silicone no peito.


Lindberg Garcia

18.10.2025 13:41

A vanguarda iluminista está a propor que os novos Herodes dos tempos hodiernos pratiquem o genocídio de um ser que não tem nem mesmo voz para pedir clemência nem braços para se defender da sentença de morte ditada por homens sem conciência e sem piedade.


Torne-se um assinante para comentar

Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.