Clarita Maia na Crusoé: Brasil sem reservas morais
O país tem um quase monopólio factual do mercado jurídico em poucos escritórios reconhecidamente influentes para tratar junto às supremas cortes
Há um velho adágio britânico segundo o qual o povo ama odiar os políticos (people love to hate politicians, em inglês).
A frase captura com precisão um paradoxo das democracias contemporâneas: os cidadãos dependem da política para assegurar a livre fruição de seus direitos, mas nutrem profunda desconfiança em relação àqueles que a exercem como mandatários eletivos.
A crítica à política, nesse contexto, converte-se em lugar-comum das conversas sociais, em cacoete jornalístico e em atalho retórico que confere verniz sociológico até mesmo a quem pouco compreende a complexidade da vida institucional.
Culpar “a política”, categoria abstrata e convenientemente difusa, torna-se uma saída fácil para explicar frustrações sociais que exigiriam diagnósticos mais incômodos e menos seletivos.
Esse movimento produz um efeito colateral perverso: ao concentrar no Poder Legislativo o passivo simbólico de todos os males nacionais, cria-se a cortina de fumaça perfeita para desviar o olhar público de outros rincões do Estado em que a corrupção, a captura institucional e a promiscuidade entre público e privado prosperam com igual ou maior intensidade.
Nesse jogo de deslocamento de responsabilidades, Executivo e Judiciário passam a se apresentar, explícita ou implicitamente, como as reservas morais da sociedade brasileira.
Uma narrativa que já não se sustenta há tempos, mas que talvez tenha encontrado em 2025, ano de simbolismo inquietante, o seu definitivo sepultamento.
O escândalo envolvendo o Banco Master recolocou no centro do debate público dois fenômenos antigos, conhecidos de todos que lidam com o Leviatã tropical, mas reiteradamente tratados com complacência.
O primeiro é a atuação dos chamados facilitadores profissionais.
O segundo é a ausência de uma política robusta de integridade voltada às pessoas politicamente expostas (PPEs), especialmente, familiares e pessoas próximas a autoridades públicas de alta hierarquia que exercem atividades profissionais em áreas sensíveis, marcadas por potencial de conflito de interesses.
O debate sobre a atuação profissional de familiares de autoridades não deve ser conduzido no registro moralizante, tampouco…
Siga a leitura em Crusoé. Assine e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Maglu Oliveira
27.12.2025 16:59Não se pode ter reservas do que nunca se teve, né?